quarta-feira, 27 de abril de 2011

Não, não, cidadão é o senhor

O país atravessa um momento crítico; somente um indivíduo encravado numa profunda ilusão, a viver numa realidade quimérica em que as casas são feitas de chocolate e os rios de mel, poderá ensaiar um ataque a essa evidência irreprochável, por demais patente na nossa rotina diária, tão visível a olho nu como o nascer ou o pôr do sol. As reacções das pessoas ao lodaçal viscoso em que permitiram que as enterrassem, escusando-se a contestar a competência ou as direcções que uns guias inaptos, comicamente desnorteados lhes ladravam com uma prepotência saloia, incapazes de exibir humildade e admitir que o carreiro por onde as conduziam estava minado, variam entre o cinismo, a revolta, e a renúncia silenciosa, os que se convencem que não há nada que possam fazer e, portanto, se demitem das suas responsabilidades - eles que tratem disto que é para isso que eu voto. Não me vou armar em oráculo, não tenho vocação para lançar grunhidos genéricos ao ar com a tenção de prever o futuro, nem em chico esperto, como os iluminados que saíram da toca depois do irremediável para propor mudanças que são um atentado ideológico retrógrado aos direitos mais básicos dos cidadãos, mas questiono o papel que nós, peões de um gigantesco tabuleiro civilizacional que já ultrapassa as fronteiras nacionais, teremos de desempenhar em anos vindouros, assim como a caracterização das personagens. Falo por mim a partir daqui. O que sou, o eu, deriva das conquistas suadas de um punhado de homens e mulheres de espírito buliçoso, homens e mulheres que disseram não à resignação substanciada por um regime opressivo, negando-se a pactuar com um status quo que rejeitava ferreamente a expressão individual, o pensamento livre, a justiça. E o que sou eu? Um rapaz nascido numa cidade cosmopolita, educado numa sociedade livre por uns pais - uns pobres coitados provenientes do campo a norte - que nunca tiveram infância, cidadão anónimo a morar numa selva de cimento e betão que devia ser um glorioso monumento à tolerância, às conquistas de uma revolução não concretizada - de onde não se tiraram vantagens da miscelânea de pontos de vista contraditórios à linha de pensamento neutra que gere o sistema actual (o Centrão). Sou fruto de uma árvore que foi regada com os costumes, propósitos, e preocupações que vieram com a democracia, logo, em vários planos, a senhora D é o veículo real dos valores éticos e morais que me foram propostos, baseados na entreajuda social, na cooperação, e numa igualdade de direitos, de oportunidades, que permite, a quem estiver disposto a submeter-se ao esforço, a melhorar as suas as condições de vida. Levando tudo isto em conta, é-me difícil de entender, impossível de alcançar, o desprezo despudorado, cada vez mais audível, que umas figurinhas sem importância (paladinos da verdade que, curiosamente, tendem a atacar sistematicamente o elo mais fraco da cadeia social, e a quem é concedida atenção por se moverem na esfera política) têm demonstrado por estes conceitos básicos. Talvez se sintam de peito cheio por terem o chapéu de chuva FMI a proteger-lhes as cabeçinhas. Os desempregados de longa duração são rotulados de vampiros que se acomodam à sua condição de cidadão inactivo e sugam os recursos do Estado, os pobres génios maquiavélicos que se trancam num bunker subterrâneo no meio de nenhures a planear o roubo do dinheiro dos contribuintes enquanto soltam uns risinhos maliciosos, os idosos são uns párias sem qualquer utilidade prática que até podiam servir o país se se engasgassem na sua solidão, os trabalhadores não passam de ferramentas em formato carne e osso protegidos por um muro de regalias e direitos que é um entrave ao crescimento económico e ao lucro...

Gostava que me informassem se, na próxima década, me devo transmutar num estupor que se regala numa hipocrisia exibicionista, se me devo comportar como um modelo cívico (adequado a estes tempos modernos) que ataca os que têm menos que eu, prescindindo da voz para falar das mordomias que só estão disponíveis para uma elite e começar a cuspir veneno contra aqueles que não se podem defender no palco mediático.
É ou não é este o cidadão que querem para um novo mundo?

domingo, 17 de abril de 2011

A verdade

O prefácio do livro Além do Bem e do Mal (Nietzshe) começa com uma proposta: Admitindo ser a verdade uma mulher. Recusando-me a explorar uma filosofia, e um pensamento, que não entendo em completo, difícil de encaixar numa doutrina pessoal assente em alicerces seguros, mas com uma superfície fissurada em que, de vez em quando, se acumulam divagações provenientes de doutrinas que repudiam a expressão emocional ou um romanticismo insaciável, considero a comparação de uma felicidade tremenda. Uma mulher, tal como a verdade, é procurada, desejada, inflama paixões. Corteja-mo-la com uma ânsia fervorosa se esta for bela, encetamos uma conversa morosa com ela para a seduzir e saciar um conjunto de necessidades concretas; intelectuais, emocionais, ou físicas. Convence-mo-nos (o sujeito apaixonado) que só nós, e somente nós, temos o direito de a conhecer, de a amar em pleno, que só a nós é que ela se pode revelar em todo o seu maravilhoso esplendor, e é essa vontade que nos atrai a inúmeras e arriscadas iniciativas (Nietzshe uma vez mais). Presumimos que os outros putativos pretendentes não tem capacidade para a entender ou reclamar os seus afectos, e, no entanto, eles lutam por ela, para nosso escândalo. Tal como a verdade, é-nos ensinado que não devemos trair uma mulher; temos uma obrigação moral, diria mesmo social, de a respeitar, de a honrar, de não sucumbir-mos ao engano e à manipulação. Ignoramos a objectividade quando estamos com ela. Para nós, a verdade/mulher é um objecto puro, imaculado, que sempre esperou por nós. Não nos atrevemos a encarar o facto que, antes desse encontro, já ela passou pelos braços de outros, que através do toque e das palavras de terceiros, o seu corpo e mente foram moldados.

Heroin Hero

Fiquei, inicialmente, familiarizado com este jogo num episódio do South Park, julgando que este não passava de mais um devaneio ácido, e delicioso, dos criadores da série mais irreverente que alguma vez trespassou o meu ecrã de televisão. Qual foi o meu espanto quando fiquei a saber que o jogo era real... e, possivelmente, na minha opinião, a mais estimulante, perversa, atrevo-me mesmo a dizer educacional, metáfora para o uso de drogas. Um ciclo terrível e ininterrupto de alívio diário que nunca é alcançado? Como é explicado na série, é impossível apanhar o dragão.

Penso que o cerne da questão é: serei mau tipo por achar uma piada descomunal a isto?

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Uma utopia portuguesa

No início desta semana, passou pela minha majestosa barraca o simpático colaborador do Círculo de Leitores, para recolher o meu habitual pedido mensal, e para receber o dinheiro de um livro que estava a dever. Após um breve período de ponderação contabilística (o senhor esquecera-se da factura e não tinha a certeza do preço do mencionado livro), dirigi-me à pocilga anárquica a que carinhosamente chamo de quarto para sacar umas notas do cimo da mesa de cabeceira, e saldar a dívida que tinha em atraso. Retornei à sua presença, num passo confortável, para lhe entregar o dinheiro, pôr as contas em dia, e receber o troco que serviria para pagar o maço de tabaco do dia seguinte; foi então que, ao estender a mão para lhe dar o que lhe era devido, vi um sorriso nervoso a formar-se-lhe na face, e após um breve segundo de silêncio, me comunicou, com um embaraço desnecessário, que não tinha troco para me devolver, que dera as moedas que lhe restavam a um velhote que andava solitariamente na rua a fazer uma colecta para pagar uma operação à mulher.

Já passaram mais de quarenta e oito horas desde esse encontro rotineiro, mas só agora é que me apercebi de que aquela revelação fora a mais desoladora que ouvira este ano, e se há coisa que não faltou este ano foram afirmações e declarações com uma violência moral aterradora.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Mass Effect 2: Arrival

Qualquer gamer que se preze, que use esse muito estigmatizado rótulo sem vergonha, já deve ter, pelo menos, ouvido falar (mesmo que não possua uma Xbox 360 ou uma PS3) da saga Mass Effect, uma ópera espacial de proporções épicas que coloca os jogadores na pele do Comandante Sheppard. O título(s) foi criado e desenvolvido pela Bioware, companhia canadiana que ganhou uma reputação inultrapassável no seio da indústria dos videojogos devido a narrativas ricas e complexas, mundos imaginativos e atmosféricos, e a liberdade de escolha, pouco normal, que é concedida aos jogadores para moldar a personalidade e valores (éticos e morais) da personagem jogável, influenciando as nuances da história primária, e a interacção com as personagens que se vai encontrando ao longo das campanhas. A Bioware é também um dos estúdios que melhor utiliza o potencial comercial dos serviços online das consolas (como empresa de entretenimento que é, o lucro está sempre no seu horizonte) criando conteúdo extra (DLC) para os seus IP's que são lançados, e distribuídos, pelas lojas virtuais da Microsoft (XBox Live) e da Sony (PS Store). Algumas dessas mini-aventuras não passam de meros artifícios de marketing para capitalizar o sucesso do título, outras, para além de expandirem a sua longevidade, enriquecem o arco narrativo principal de um modo que não parece forçado mas sim natural, detentoras de uma alma e de um propósito claros, que tem como função atar pontas soltas (envolvendo personagens e conflitos secundários) ou servir de epílogo a eventos passados enquanto providenciam o tom para episódios futuros (se os houver).

O mais recente, e último, DLC a ser lançado para o Mass Effect 2 intitula-se Arrival, e serve de epílogo ao jogo. A premissa é simples, mas o potencial dramático é enorme: os Reapers estão aí, a invasão da galáxia por parte das titânicas máquinas genocidas é eminente. O Almirante Hackett contacta o Sheppard no início da aventura e pede-lhe que entre num sistema hostil, controlado por batarians, com o propósito de resgatar uma amiga cientista, de seu nome Dr. Kenson, que poderá ter descoberto provas de que os Reapers estão a caminho da Via Láctea. Como disse, uma premissa simples, com um potencial dramático e emocional elevados, a promessa de se assistir ao começo de uma invasão que, em virtude dos segundos finais do ME2, é inevitável... que dá azo a uma jogabilidade simplista, a uma história superficial, e um clímax inútil. O facto de não se poder levar membros do vosso esquadrão nessa missão de salvamento, tem sido abertamente criticado pela imprensa especializada e pelos fãs nos mais diversos foruns. A mecânica do penúltimo jogo da trilogia assentava na procura e no recrutamento de companheiros, divididos de acordo com as suas classes e poderes, com o objectivo de criar um esquadrão cujas especializações melhor servissem as necessidades do jogador num contexto táctico-militar, tirando vantagem das armas e talentos ao seu dispor. Pessoalmente, a mudança nessa mecânica (fosse por razões narrativas ou logísticas) não me fez mossa; os criadores dos jogos Mass Effect sempre disseram que o universo futurístico por eles construído, expansivo e ricamente habitado, era um palco para narrar a história de um herói em particular, a sua luta contra uma ameaça praticamente invencível, e o efeito provocado pelas suas acções, o que não significa que a retirada desse elemento estratégico não tenha transformado o DLC num shoot 'em up do mais básico que há no mercado (existe uma secção em que é possível uma aproximação mais furtiva à jogabilidade, mas a dificuldade é mínima e não exige um grande esforço mental, muito por causa da IA limitada dos adversários).

Os Mass Effect (1 e 2) sempre foram pautados por escolhas de cariz moral, e práticas, complexas (poupar ou não a vida da rainha Rachni, uma raça alienígena que esteve à beira de acabar com a vida orgânica na galáxia; dar a base dos Collectors a um homem com uma mentalidade racista, manipulador, e sem escrúpulos para que a sua tecnologia possa ser usada contra a maior ameaça que já se viu...), e o Arrival não é diferente. A meio da jornada, somos confrontados como um dilema moral colossal que apela directamente à sensibilidade do jogador, do tipo que nos leva a pousar o comando e a ponderar os pós e os contras de tal responsabilidade, a pensar se estamos dispostos a arcar com as consequências do acto. O problema é que quando chega o momento da execução, de pormos em prática a nossa decisão, percebemos que a escolha que nos foi dada, e na qual se perdeu tempo a matutar, não passava de uma ilusão; o caminho já tinha sido predefinido e seria revelado através de uma cutscene em que um Sheppard hesitante faz o tem a fazer. O jogador é ilibado, mas o seu Sheppard, a personagem que se tinha vindo a construir há dois jogos, é forçado a arcar com a culpa esmagadora que daí pode (ou não) derivar, a enfrentar, sozinho e sem ajuda, as inconfortáveis consequências... quando esse acto marcante poderia nem sequer ter germinado da vontade do jogador. Vindo de um estúdio que se notabilizou pela liberdade que dá aos seus consumidores para influenciar eventos futuros, forçar uma decisão daquelas ao jogador, com uma leviandade tão casual, pode ser encarada como um ultraje e uma berrante quebra de confiança, ainda mais quando esta não impacta a história primária (no fim ficamos a saber o mesmo do que quando começamos: os Reapers vem aí), mas tal como não era possível salvar o Sheppard no começo do Mass Effect 2 (era preciso um motivo lógico para este se juntar à Cerberus), o evento em questão tem uma explicação que se tornou clara há uns dias; a liberdade pessoal não se deve sobrepor à necessidade criativa (o link dá acesso a uma página no livejournal que contem scans da Game Informer de Maio, revista de videojogos norte-americana que este mês dedicou um artigo inteiro ao Mass Effect 3, e onde é revelado o começo do jogo. Quem não gosta de spoilers, mantenha-se longe dali). Arrival até se joga bem, os combates não são maus de todo (mesmo levando em consideração a fraca IA) e há cenários com uma estética fabulosa, mas fica a sensação de que os produtores perderam uma oportunidade de construir algo de grandioso.

Comparado com o DLC anterior (Lair Of The Shadow Broker), Arrival é um produto sem chama, com um conteúdo emocional oco, e uma narrativa que nada acrescenta à mitologia da saga, sendo apenas um anúncio de uma hora, com o intuito de promover o capítulo final da trilogia ME, e não uma conclusão digna de um dos melhores jogos do ano passado.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Qual é a admiração?

Fernando Nobre concorreu às eleições presidenciais de Janeiro com um slogan genérico, a prometer uma mudança para recomeçar Portugal, e uma campanha eleitoral insossa, predicada nos princípios da cidadania, da independência, e num estatuto supra-partidário que até lhe valeu um considerável número de votos dos eleitores que estão desiludidos com os partidos políticos. Descrito como uma figura destacada da sociedade civil, o senhor Fernando Nobre passou uma boa parte da campanha a invocar os seus feitos humanitários, a enumerar as suas qualidades, e a desprezar o passado político dos seus adversários, uma táctica eminentemente política que passaria incólume se não tivesse sido imitada por alguém que defendia a regeneração da forma como essa actividade era praticada, e que deu a sensação de a sua candidatura não passar de uma operação de polimento público do seu ego, culminando no anúncio de que iria escrever um livro findas as eleições. Para mim, ficou patente, nos debates em que o homem participou, que ele não era um orador exímio nem empolgante, e que as suas ideias se resumiam à crítica fácil, mas a sua candidatura teve um relativo sucesso nas urnas, e o nome Fernando Nobre passou a figurar nos vocabulário político nacional.

Depois de ter ficado uns meses em silêncio total, contrariando a promessa que fizera de que seria um cidadão atento à situação do país, o fundador da AMI deu uma entrevista à SIC Notícias, em que afirmou categoricamente que não aceitaria qualquer cargo político, nem governativo, que lhe fosse proposto; passadas três semanas dá uma volta de cento e oitenta graus na sua palavra, e acede ao convite que o líder do PSD (Passos Coelho) lhe endereçou para ser o cabeça-de-lista do partido por Lisboa, assim como o candidato laranja à presidência da Assembleia da República. Segundo ele, o que o determinou foi a convicção de poderia servir o país e ser útil a Portugal, mas nada referiu quanto ao facto de estar a ser flagrantemente usado pela máquina partidária para sacar uns votos extra. Disse que estava ciente que passaria a ser alvo de muitas incompreensões e desprezo, mas esqueceu-se de mencionar que o seu discurso passado assentava precisamente numa luta contra os partidos do sistema (que considerava estarem desfasados da vida do país e dos portugueses), optando por encerrar a sua página do Facebook a ter que confrontar os comentários indignados teclados pela mão daqueles que se sentiram traídos pela sua decisão.

Nós já devíamos saber que para se ter influência no processo legislativo português, é necessário o suporte de um partido organizado que capte votos; o que parece transtornar as pessoas é verem alguém que se insurge contra o universo hermético da política transmutar-se numa peça da engrenagem em vez de a desmantelar.


domingo, 10 de abril de 2011

Lyndsy Fonseca

Já me apercebi de que existe uma curiosidade crescente nesta nossa terrinha em relação à Lyndsy que ultrapassa a simples admiração pela sua beleza pueril e resplandecente, pelo que, para saciar o interesse que a luso-descendente desperta, decidi elaborar uma pequena biografia (uma perda de tempo para os rebarbados ou para meros apreciadores da figura feminina), em que relevo informação pessoal relevante e o seu percurso profissional.

Lyndsy Marie Fonseca nasceu a sete de Janeiro de mil novecentos e oitente e sete em Oakland, na California, e é filha de pai português e mãe alemã (o conflito interno que deve para ali haver). Aos treze anos competiu na Associação Internacional de Modelos e Talento onde chamou a atenção de um manager de talentos. Enquanto adolescente, entrou em várias produções teatrais locais, e foi por volta dessa altura que parou de frequentar o ensino público para passar a ser tutorada em casa (esteve matriculada em escolas até ao sétimo ano). Viveu em Los Angeles cerca de um ano até que, aos quatorze anos, teve a sua primeira grande oportunidade no mundo do entretenimento ao assinar um contracto de três anos para interpretar o papel de Collen Carlton na telenovela diurna americana The Young And The Restless. Durante este período, fez vários anúncios televisivos. Terminado o contracto que a ligava à telenovela, a Lyndsy decidiu procurar novos projectos que lhe proporcionassem novos desafios, tanto a nível profissional como artístico, sendo de realçar a sua breve participação em shows populares como o CSI, House, e Heróis, e a filmagem de um par de telefilmes, antes de conquistar um papel recorrente no drama Big Love e na comédia Como Conheci A Tua Mãe (é a filha do Ted no futuro), mas o papel que realmente a colocou no mapa, e captou a atenção da crítica e do público, foi a personagem Dylan Mayfair na série Donas de Casa Desesperadas, para a qual esteve nomeada para um SAG (Screen Actors Guild) juntamente com o resto do elenco. Com as portas de Hollywood finalmente escancaradas, começaram a aparecer ofertas para entrar em filmes mais comerciais (já tinha entrado em filmes independentes como The Beautiful Ordinary e Intellectual Property), como o thriller de acção, e objecto de culto, Kick-Ass, uma desconstrução dos mitos que compõem os arquétipos dos heróis de banda desenhada e as suas respectivas adaptações cinematográficas, e a comédia goofball Jacuzzi-O Desastre Do Tempo. Actualmente, entra na série Nikita (baseada num filme de Luc Besson com o mesmo título) onde contracerna com a actriz Maggie Q (Missão Impossível III), e tem a estrear nos cinemas The Ward, o novo delírio de John Carpenter.

Trivialidades: gosta de dançar, patinar, sushi, e adora jogar futebol.

Deixo o trailer do seu filme mais famoso, Kick-Ass, e os minutos iniciais da série Nikita (passa na RTP no Domingo à tarde, se não me engano), onde interpreta uma delinquente que é recrutada pela Divisão para se tornar numa assassina ao serviço do Governo americano.

sábado, 9 de abril de 2011

Sonhos destroçados

Rejeitamos ferozmente um conceito de vivência colectiva, enraizada num voluntarismo utópico que não é mais que uma incoveniência a um sempre inalcançável sucesso pessoal, para nos prostrarmos a um individualismo que mina as relações interpessoais e objectifica o indivíduo. Orgulhamo-nos de ser uma espécie com uma complexidade estrutural e uma capacidade intelectual únicas, que exalta palavras poderosas como igualdade, liberdade, direitos, ou deveres em nome do Homem, mas que não se retrai um milímetro que seja quando tem que dividi-los em classes ou em qualificá-los de acordo com a sua utilidade, o seu mérito, a sua juventude. Pedem-nos que que nos sacrifiquemos em nome de um enigmático bem maior sem contestanção ou perguntas incómodas, sem que, no entanto, nos permitam ter uma voz activa na construção do futuro forçado que cavaram para nós ou, e esse é um pormenor chave, se disponham a partilhar as mesmas dificuldades. Ensinam-nos que, por causa das circunstâncias económicas e sociais com que temos de lidar no mundo moderno, as nossas nações não devem ser territórios ermos, delimitados por fronteiras invisíveis e independentes, livres e culturalmente diferentes, mas peças de um puzzle geográfico e financeiro que, ao ser completo, nos trará uma prosperidade sem paralelo na história europeia, nem que para isso tenhamos que nos submeter a umas regras de natureza constritiva que não temos condições para cumprir, e à vontade de uns senhores(a) que não tem legitimidade democrática para impor o seu rumo à restante população. Glorificamos o advento tecnológico das redes sociais e meios de comunicação semelhantes, nomeadamente a sua muito questionável contribuição para a união entre os povos e facilidade de acesso a informação fidedigna, escusando-nos a discutir, num tom crítico, a futilidade da maioria dos comentários que lemos nos seus murais, os insultos baratos, e correntes difamatórias que aí crescem sem razão, talvez para saciar uma auto-estima diminuta; não opinamos sobre o valor educativo, e a veracidade, da informação que é rapidamente propagada pelos meios de comunicação sociais online (agora o boato e a possibilidade tornaram-se factos), mas, principalmente, sobre o seu papel numa sociedade (que se diz evoluída) em que a solidão é mais acentuada que nunca, e onde uma pessoa pode morrer sem que ninguém dê conta do seu suspiro final.

Eu não sou um santo, os erros do passado e o pecado contínuo perseguem-me, mas cada vez me convenço mais de que me devia perder na vastidão das montanhas nepalesas para, quem sabe, me juntar a um mosteiro que me possibilitasse levar uma vida reclusiva, longe desta sociedade inenarrável, incompreensível.

Um sonho

sexta-feira, 8 de abril de 2011

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Um povo que não se governa nem se deixa governar

Esta exígua, contundente, e popularizada frase do nosso riquíssimo léxico cultural, cunhada por um general romano numa carta enviada ao seu Imperador aquando da conquista da Península Ibérica, é n vezes repetida e calcada, ao ponto de esta se ter tornado num cliché sem valor educacional, por uma aparelhagem de comentadores televisivos e colunistas de jornais (que na maioria dos casos se limitam a constatar o que é por demais evidente para o cidadão informado) para descrever o caos, a eterna anarquia comportamental, social, e política de um povo, e de um país, que parece condenado a não ter um período de estabilidade (social, cultural, económica, financeira, política) que lhe permita honrar o esforço idealístico, sobre-humano, dos homens e mulheres que lutaram bravamente, com custos pessoais e físicos enormes, para que vivessem numa terra livre, impermeável a influências indesejadas, e a jugos externos, e internos, nefastos.

Os Lusitanos, povos tribais cujo sangue compõe a nossa matriz genealógica, lutou até ao ponto da impossibilidade contra um Império que era, em termos militares e tecnológicos, mais evoluído, e que na sua soberba, maravilhados com a sua engenhosidade e cultura, se julgavam no direito de levar a luz romana a territórios distantes e aos seus respectivos habitantes. Viriato, guerreiro de princípios inabaláveis (como a honestidade) e um homem de palavra sólida (nunca quebrava um acordo por iniciativa própria), era um líder temido pelo invasor romano devido à sua tenacidade e capacidade estratégica militar, e considerado pelos historiadores como o expoente máximo da perseverança, da coragem, da vontade férrea do povo lusitano, uma figura que reunia consensos, e à volta da qual, portanto, se podiam unir, organizar, e lutar; parece-me que não era tanto uma questão de se recusarem a ser governados, mas sim de serem governados por quem, quando, e como. Hoje, a contrastar com os nossos antepassados tribais, somos um povo resignado, letárgico, de gostos e valores duvidosos. Sim, a geração actual é a mais educada de sempre, e, no entanto, continuam-se a ver pessoas (uma boa fatia proveniente de uma geração que agora é vilipendiada pelos direitos que lhes foram atribuídos na ressaca do vinte e cinco de Abril) que preferem perder tempo valioso a apupar desconhecidos à porta de um tribunal a ter que ouvir, escutar, e analisar as declarações fantasiosas daqueles que nos (des)governam (qual é o nosso papel na Europa franco-alemã que nos reduziu a uns insectos sem relevância?), votando neles de modo arbitrário e sem justificação, apenas porque sim, porque lhes apetece, porque o outro é mais simpático, porque nunca pus uma cruz num quadradinho a que não estivesse adjacente as letras PS ou PSD. Somos entidades individualistas, cada uma detentora de idiossincrasias, sentimentos, opiniões, e percepções do mundo únicas, mas damos a mão a homens e mulheres que revelam ser donos de uma sensibilidade completamente oposta à nossa (na surrealista manifestação de Março deste ano, viam-se grupos de gays e conservadores lado a lado, skinheads e trotskistas juntos numa luta que de certeza que não é semelhante) com base no lema o inimigo do meu inimigo é meu amigo. A mentalidade de grupo impele-nos a isso.

Presentemente, Portugal é um pequeno país em território, mas gigantesco em termos historiais, independente e soberano, com quase novecentos anos de existência (o mais antigo da Europa), fronteiras estáveis, laico, com diversos, variados, longos, e curtos modelos governativos atrás de si, experiências de governação miseravelmente falhadas, uma sangria que parece ter estancado numa democracia jovem e imperfeita. Para mim, é estranho que em pleno século século XXI, Portugal tenha no seu núcleo uma classe política medíocre, tenebrosa, sem cultura, ideias, ou um carácter ideológico vincado; presidentes de câmaras, deputados, ministros que tem no seu âmago um ignóbil e alarmante vácuo de valores éticos e morais, que mostram uma despudorada sede de poder, assemelhando-se a meninas excitadas a correrem para lugares que não merecem ocupar, betinhos que fingem cobardemente partilhar as nossas ansiedades e angústias sem, no entanto, revelarem uma medida social ou económica concreta, algo que prove, aos que deles duvidam, que possuem uma estratégia que está a ser, ou que já terá sido, cuidadosamente elaborada, planeada, e definida, que tem uma visão capaz de tirar o país do buraco em que este caiu. O que é que nós temos em vez disso? Um adolescente que pergunta ao seu assessor qual é o perfil que melhor se adequa às câmaras de televisão para passar a imagem de um mártir que não se rende à vilania, e um avozinho que tacticamente decidiu exibir os seus sóbrios óculos de pensador profundo para fazer transparecer, em nome da pátria, uma imagem de calma, ponderação, e responsabilidade ao povo português (estamos em período pré-eleitoral afinal). Atenção: essas figuras não são os únicos responsáveis pela crise que o país atravessa. Nós, eu incluído, já que não sou melhor nem pior que os outros, é que caímos na esparrela de demonizar um objecto, de lhe atribuir uma aura de pura maldade e incompetência oculta, infantilmente ou propositadamente, para exteriorizar as nossas frustrações, a nossa raiva, os nossos tormentos, as nossas inseguranças quanto ao que nos reserva um futuro que parece cada vez mais escuro, recusando-nos encarar a leviandade com que exercemos (ou não) os nossos deveres cívicos, a loucura com que satisfizemos a nossa ânsia consumista, o nosso papel numa sociedade que não tolera o sucesso alheio, e que se alimenta da inveja, do facilitismo, e dos favores.

O que sei é que o FMI vem aí pela terceira vez em trinta e três anos, e pelo andar das coisas, com a mentalidade vigente e inabalável que se cravou no nosso ADN, não vai ser a última.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

O primeiro dos quatro cavaleiros do Apocalipse está aí


Governo assume que vai pedir ajuda externa.

As reacções ao começo do Apocalipse Económico e Social, há anos profetizado por S. Medina Carreira, posto em marcha por estes demónios engravatados, não se fizeram esperar (reacções retiradas da caixa de comentários da notícia aqui difundida):

  • Devias ser preso numa cela com o JULIÃO para te fazer um filho com o olho (?). Na testa seu nojento. Vai-te (Teixeira dos Santos) pôr num porco.
  • Obrigado Sócrates e companhia por terem fodido esta merda toda.
  • Chegou a hora da humilhação. Miseráveis, sois os únicos responsáveis pelo que possa acontecer.
  • A culpa foi de Salazar, devia ter feito um filho em cada distrito.
Eu, pessoalmente, mal posso esperar para me entrincheirar no mato e lutar contra o Anti-Cristo.

Deus e a crueldade

Uma professora (idealista, prestável, atenciosa) uma vez disse, com uma resignação cansada, a um aluno (destroçado, incauto, e indiferente a uma vida escolar que ele abjurava) que Deus fora cruel ao dar uma enorme inteligência a alguém sem juízo e sem motivação.

Para ela, penso, não era uma abominação que uma inteligência elevada tivesse sido dada a alguém que não se servia das suas capacidades intelectuais; a premissa da sua crítica assentava no facto de este, sendo o seu recipiente e estando ciente delas, não ter nem a classe, nem a vontade, para as aproveitar em todo o seu esplendor e glória (tanto a nível pessoal como colectivo).

Para mim, tal crítica tem mais a ver com o carácter ocioso de Deus do que com a inconsciência do rapaz em questão.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Lyndsy's Eyes


Que a imaginação se eleve.

Solidão


Pray that your loneliness may spur you into finding something to live for, great enough to die for.

O meu é maior que o teu

Julgo ser um facto universal que o indivíduo comum, em consonância com uma natureza primitiva que milhões de anos de evolução apenas atenuou, preza, acima de tudo, e em conjunto com uma inescapável pulsão sexual, a liberdade. Encarado como um direito divino, inalienável, e um componente essencial, indiscutível, de uma sociedade contemporânea e civilizada, permite-nos viver, desde que essas experiências não ultrapassem um limite legal estabelecido a priori, de acordo com as nossas convicções, propósitos, necessidades, ou escolhas, e somos capazes de movimentar montanhas, de cometer verdadeiros actos escabrosos para preservar, para proteger essa condição. Uma pessoa perseguida, sentindo-se acossada, encurralada, foge, riposta, e até mata se for preciso; o instinto selvagem, violento, irracional vem ao de cima.

Com base neste pensamento, é, portanto, mais do que concebível que caso sejamos bruscamente abordados na rua, num dia chuvoso, por um estranho com mau aspecto, cujas motivações variam entre a mesquinhez e o egoísmo, que nos encosta à parede e nos pergunta, com desprezo, porque é que andamos por ali de T-Shirt se podemos ficar mais quentes com um casaco que ele ou os colegas andam a vender, lhe respondamos, seja por orgulho parvo, por despeito, por duvidar das suas intenções, ou, simplesmente, por não termos achado piada à violação do nosso espaço pessoal, vai para o caralho e mete-te na tua vida, mesmo que a interpelação faça sentido, possa ser útil, e impeça que nos constipemos.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

E o burro sou eu?!

Hoje de manhã estava eu a assistir, com um desinteresse sonolento, ao programa de opinião pública matinal da RTPN (Antena Aberta), dedicado à conquista do Campeonato Nacional de Futebol pelo FCP, quando um participante, provavelmente investido, consumido, por uma emoção azul e branca, que admito ser compreensível dada a natureza e as circunstâncias da vitória, declarou, com uma naturalidade análoga à de quem muda de roupa interior, que tinha retirado a fotografia da mulher e do filho que mantinha na mesa de cabeceira e a substituiu por uma do Pinto da Costa.

Num milénio em que a geração mais jovem portuguesa, que germina de uma sociedade pós-vinte e cinco de Abril em que a utopia económica e social não passou de uma anedota medíocre sem graça, é colectivamente, e frequentemente, acusada de não ter a mais pequena noção de sentido cívico, criticada pela sua superficialidade, censurada pela alarmante ausência de causas, e de se ter rendido a um hedonismo simplista e militante, talvez, mas só talvez, se deva olhar com muito cuidado para os valores, para o legado, para os falhanços que foram transmitidos aos seus filhos e netos, e que são perpetuados por uma classe política e jornalística que não tentam redimir um status quo socialmente zombificado, mas sim adaptar-se a ele.

É que nem todos somos farinha do mesmo saco, mas todos somos produtos do que nos rodeia.


sexta-feira, 1 de abril de 2011

Comprem um Fiat que também não é um mau carro

O estatuto da dívida pública portuguesa está a um mísero nível de ser considerada lixo pútrido e tóxico pelas agências de rating.

O PSD dispôs-se gentilmente a apoiar o Governo se este tiver que pedir a ajuda do FMI, para ter um escudo que o proteja da cascata de balas que atingirá os membros do seu hipotético governo quando tiverem que acatar as medidas de austeridade da senhora Merkel.

Na próxima segunda-feira iremos assistir, impávidos e serenos, a mais um aumento dos preços dos combustíveis porque os Porshes custam a pagar.

A toda poderosa ERC decidiu instaurar um processo contra a Sic Radical e o programa Especial de Natal do Rui Sinel de Cordes porque, passados três meses da sua exibição, se tomou conta de que se sentiu chocada com o seu conteúdo grosseiro ao ultrapassar os rígidos limites legais que delineiam a liberdade de expressão, crime que se tornou num autêntico atentado aos direitos humanos por ser um programa nitidamente impróprio de ser transmitido numa quadra em que devíamos dar as mãos ao Pai Natal e cantar o Kumbaya à volta de uma fogueira.

Agradecia sinceramente a todos estes senhores e senhoras que parassem com estas merdas e reencaminhassem as suas energias para matérias mais prementes que a vida está má.

Distopia