terça-feira, 5 de abril de 2011

O meu é maior que o teu

Julgo ser um facto universal que o indivíduo comum, em consonância com uma natureza primitiva que milhões de anos de evolução apenas atenuou, preza, acima de tudo, e em conjunto com uma inescapável pulsão sexual, a liberdade. Encarado como um direito divino, inalienável, e um componente essencial, indiscutível, de uma sociedade contemporânea e civilizada, permite-nos viver, desde que essas experiências não ultrapassem um limite legal estabelecido a priori, de acordo com as nossas convicções, propósitos, necessidades, ou escolhas, e somos capazes de movimentar montanhas, de cometer verdadeiros actos escabrosos para preservar, para proteger essa condição. Uma pessoa perseguida, sentindo-se acossada, encurralada, foge, riposta, e até mata se for preciso; o instinto selvagem, violento, irracional vem ao de cima.

Com base neste pensamento, é, portanto, mais do que concebível que caso sejamos bruscamente abordados na rua, num dia chuvoso, por um estranho com mau aspecto, cujas motivações variam entre a mesquinhez e o egoísmo, que nos encosta à parede e nos pergunta, com desprezo, porque é que andamos por ali de T-Shirt se podemos ficar mais quentes com um casaco que ele ou os colegas andam a vender, lhe respondamos, seja por orgulho parvo, por despeito, por duvidar das suas intenções, ou, simplesmente, por não termos achado piada à violação do nosso espaço pessoal, vai para o caralho e mete-te na tua vida, mesmo que a interpelação faça sentido, possa ser útil, e impeça que nos constipemos.

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