sábado, 9 de abril de 2011

Sonhos destroçados

Rejeitamos ferozmente um conceito de vivência colectiva, enraizada num voluntarismo utópico que não é mais que uma incoveniência a um sempre inalcançável sucesso pessoal, para nos prostrarmos a um individualismo que mina as relações interpessoais e objectifica o indivíduo. Orgulhamo-nos de ser uma espécie com uma complexidade estrutural e uma capacidade intelectual únicas, que exalta palavras poderosas como igualdade, liberdade, direitos, ou deveres em nome do Homem, mas que não se retrai um milímetro que seja quando tem que dividi-los em classes ou em qualificá-los de acordo com a sua utilidade, o seu mérito, a sua juventude. Pedem-nos que que nos sacrifiquemos em nome de um enigmático bem maior sem contestanção ou perguntas incómodas, sem que, no entanto, nos permitam ter uma voz activa na construção do futuro forçado que cavaram para nós ou, e esse é um pormenor chave, se disponham a partilhar as mesmas dificuldades. Ensinam-nos que, por causa das circunstâncias económicas e sociais com que temos de lidar no mundo moderno, as nossas nações não devem ser territórios ermos, delimitados por fronteiras invisíveis e independentes, livres e culturalmente diferentes, mas peças de um puzzle geográfico e financeiro que, ao ser completo, nos trará uma prosperidade sem paralelo na história europeia, nem que para isso tenhamos que nos submeter a umas regras de natureza constritiva que não temos condições para cumprir, e à vontade de uns senhores(a) que não tem legitimidade democrática para impor o seu rumo à restante população. Glorificamos o advento tecnológico das redes sociais e meios de comunicação semelhantes, nomeadamente a sua muito questionável contribuição para a união entre os povos e facilidade de acesso a informação fidedigna, escusando-nos a discutir, num tom crítico, a futilidade da maioria dos comentários que lemos nos seus murais, os insultos baratos, e correntes difamatórias que aí crescem sem razão, talvez para saciar uma auto-estima diminuta; não opinamos sobre o valor educativo, e a veracidade, da informação que é rapidamente propagada pelos meios de comunicação sociais online (agora o boato e a possibilidade tornaram-se factos), mas, principalmente, sobre o seu papel numa sociedade (que se diz evoluída) em que a solidão é mais acentuada que nunca, e onde uma pessoa pode morrer sem que ninguém dê conta do seu suspiro final.

Eu não sou um santo, os erros do passado e o pecado contínuo perseguem-me, mas cada vez me convenço mais de que me devia perder na vastidão das montanhas nepalesas para, quem sabe, me juntar a um mosteiro que me possibilitasse levar uma vida reclusiva, longe desta sociedade inenarrável, incompreensível.

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