segunda-feira, 4 de abril de 2011

E o burro sou eu?!

Hoje de manhã estava eu a assistir, com um desinteresse sonolento, ao programa de opinião pública matinal da RTPN (Antena Aberta), dedicado à conquista do Campeonato Nacional de Futebol pelo FCP, quando um participante, provavelmente investido, consumido, por uma emoção azul e branca, que admito ser compreensível dada a natureza e as circunstâncias da vitória, declarou, com uma naturalidade análoga à de quem muda de roupa interior, que tinha retirado a fotografia da mulher e do filho que mantinha na mesa de cabeceira e a substituiu por uma do Pinto da Costa.

Num milénio em que a geração mais jovem portuguesa, que germina de uma sociedade pós-vinte e cinco de Abril em que a utopia económica e social não passou de uma anedota medíocre sem graça, é colectivamente, e frequentemente, acusada de não ter a mais pequena noção de sentido cívico, criticada pela sua superficialidade, censurada pela alarmante ausência de causas, e de se ter rendido a um hedonismo simplista e militante, talvez, mas só talvez, se deva olhar com muito cuidado para os valores, para o legado, para os falhanços que foram transmitidos aos seus filhos e netos, e que são perpetuados por uma classe política e jornalística que não tentam redimir um status quo socialmente zombificado, mas sim adaptar-se a ele.

É que nem todos somos farinha do mesmo saco, mas todos somos produtos do que nos rodeia.


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