domingo, 17 de abril de 2011

A verdade

O prefácio do livro Além do Bem e do Mal (Nietzshe) começa com uma proposta: Admitindo ser a verdade uma mulher. Recusando-me a explorar uma filosofia, e um pensamento, que não entendo em completo, difícil de encaixar numa doutrina pessoal assente em alicerces seguros, mas com uma superfície fissurada em que, de vez em quando, se acumulam divagações provenientes de doutrinas que repudiam a expressão emocional ou um romanticismo insaciável, considero a comparação de uma felicidade tremenda. Uma mulher, tal como a verdade, é procurada, desejada, inflama paixões. Corteja-mo-la com uma ânsia fervorosa se esta for bela, encetamos uma conversa morosa com ela para a seduzir e saciar um conjunto de necessidades concretas; intelectuais, emocionais, ou físicas. Convence-mo-nos (o sujeito apaixonado) que só nós, e somente nós, temos o direito de a conhecer, de a amar em pleno, que só a nós é que ela se pode revelar em todo o seu maravilhoso esplendor, e é essa vontade que nos atrai a inúmeras e arriscadas iniciativas (Nietzshe uma vez mais). Presumimos que os outros putativos pretendentes não tem capacidade para a entender ou reclamar os seus afectos, e, no entanto, eles lutam por ela, para nosso escândalo. Tal como a verdade, é-nos ensinado que não devemos trair uma mulher; temos uma obrigação moral, diria mesmo social, de a respeitar, de a honrar, de não sucumbir-mos ao engano e à manipulação. Ignoramos a objectividade quando estamos com ela. Para nós, a verdade/mulher é um objecto puro, imaculado, que sempre esperou por nós. Não nos atrevemos a encarar o facto que, antes desse encontro, já ela passou pelos braços de outros, que através do toque e das palavras de terceiros, o seu corpo e mente foram moldados.

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