terça-feira, 12 de abril de 2011

Qual é a admiração?

Fernando Nobre concorreu às eleições presidenciais de Janeiro com um slogan genérico, a prometer uma mudança para recomeçar Portugal, e uma campanha eleitoral insossa, predicada nos princípios da cidadania, da independência, e num estatuto supra-partidário que até lhe valeu um considerável número de votos dos eleitores que estão desiludidos com os partidos políticos. Descrito como uma figura destacada da sociedade civil, o senhor Fernando Nobre passou uma boa parte da campanha a invocar os seus feitos humanitários, a enumerar as suas qualidades, e a desprezar o passado político dos seus adversários, uma táctica eminentemente política que passaria incólume se não tivesse sido imitada por alguém que defendia a regeneração da forma como essa actividade era praticada, e que deu a sensação de a sua candidatura não passar de uma operação de polimento público do seu ego, culminando no anúncio de que iria escrever um livro findas as eleições. Para mim, ficou patente, nos debates em que o homem participou, que ele não era um orador exímio nem empolgante, e que as suas ideias se resumiam à crítica fácil, mas a sua candidatura teve um relativo sucesso nas urnas, e o nome Fernando Nobre passou a figurar nos vocabulário político nacional.

Depois de ter ficado uns meses em silêncio total, contrariando a promessa que fizera de que seria um cidadão atento à situação do país, o fundador da AMI deu uma entrevista à SIC Notícias, em que afirmou categoricamente que não aceitaria qualquer cargo político, nem governativo, que lhe fosse proposto; passadas três semanas dá uma volta de cento e oitenta graus na sua palavra, e acede ao convite que o líder do PSD (Passos Coelho) lhe endereçou para ser o cabeça-de-lista do partido por Lisboa, assim como o candidato laranja à presidência da Assembleia da República. Segundo ele, o que o determinou foi a convicção de poderia servir o país e ser útil a Portugal, mas nada referiu quanto ao facto de estar a ser flagrantemente usado pela máquina partidária para sacar uns votos extra. Disse que estava ciente que passaria a ser alvo de muitas incompreensões e desprezo, mas esqueceu-se de mencionar que o seu discurso passado assentava precisamente numa luta contra os partidos do sistema (que considerava estarem desfasados da vida do país e dos portugueses), optando por encerrar a sua página do Facebook a ter que confrontar os comentários indignados teclados pela mão daqueles que se sentiram traídos pela sua decisão.

Nós já devíamos saber que para se ter influência no processo legislativo português, é necessário o suporte de um partido organizado que capte votos; o que parece transtornar as pessoas é verem alguém que se insurge contra o universo hermético da política transmutar-se numa peça da engrenagem em vez de a desmantelar.


2 comentários:

  1. Á insossa falta um n

    de Nobre provavelmente

    é bonito bater nos caídos

    sentimo-nos maiores e mais justos

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  2. Insossa:

    adj insosso, insossa [ĩ'sosu, ĩ'sosɐ]
    1 que tem falta de sal
    2 sem graça

    http://pt.thefreedictionary.com/insossa

    Corrigir os outros sem saber do que se fala faz com que nos sintamos maiores e mais justos.

    Paz e amor.

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